Reflexão e mudança de atitude sobre a demência tipo alzheimer
Apesar de todos esses anos de pesquisa, a Demência de Alzheimer ainda carrega muitos mistérios a cerca do funcionamento da mente humana, que lentamente a ciência vai tratando de compreender e explicar.
Lembro-me, por exemplo, que durante os tempos de faculdade, há uns vinte anos atrás, fomos ensinados que o neurônio era uma célula estática, ou seja, nascíamos com um certo neurônios com suas respectivas conexões com outros neurônios, e com o tempo, o processo de perda era inexorável e progressivo.
Neuroplasticidade
Hoje já existe o conceito da neuroplasticidade, que é a ideia de que o neurônio não é uma célula imutável, mas que pode aumentar seu comprimento e suas conexões, mesmo na velhice.
Esse conceito é base do entendimento de que algumas práticas preventivas. Por exemplo: como o controle da pressão arterial, e de promoção de saúde, como o exercício físico e mental, podem evitar danos e gerar uma “reserva” de neurônios, importante na proteção contra as demências, como Alzheimer.
Mistérios da mente humana
Mas voltando aos mistérios da mente humana, no contato com os cuidadores de pessoas que têm alguma demência, são muito frequentes os questionamentos a cerca das sensações, pensamentos e emoções destes pacientes.
Ouvi muito os familiares perguntando: “Doutor, a cabeça dela está tão ruim, será que está sentindo dor?”.
Nas demências, o olhar distante, a perda progressiva da memória e da capacidade de reconhecer coisas, pessoas e até a própria face nas fases mais avançadas, levam os indivíduos que estão próximos a pensar que seus entes queridos também não têm condições de reagir ou expressar suas emoções, sejam elas boas ou ruins.
A verdade é que idosos demenciados sentem sim dor e podem apresentar memória emocional. A questão é que esta expressão pode ser diferente da que ocorre em pessoas não demenciadas.
Quanto à dor física, o paciente pode não ter condições de dizer o que está sentindo e nem onde dói, mas ela é expressa, por exemplo, através de uma agitação ou de uma insônia.
E a memória emocional? Mesmo não se lembrando de fatos, a repercussão emocional de algum episódio pode ocorrer e permanecer durante um bom tempo, principalmente nas fases iniciais da doença.
Relato de Pesquisa
Pesquisadores da Universidade de Iowa apresentaram cenas de filmes tristes e alegres a 17 pessoas saudáveis e com Alzheimer.
Após cinco minutos do fim do filme, as pessoas com Demência de Alzheimer retiveram muito poucas informações sobre aquilo que assistiram, porém foram capazes de ter um sentimento de alegria ou tristeza por um período de 30 minutos.
Ou seja, as emoções podem permanecer muito vivas, mesmo com a perda da memória recente. A explicação dessa dissociação entre memória e emoção pode estar na anatomia.
Aqueles indivíduos que mantém suas emoções mais vivas parecem ter suas amígdalas menos comprometidas.
As amígdalas não são aquelas da garganta, mas estruturas esféricas muito pequenas no lobo temporal do cérebro, onde são processadas todas as reações emocionais.
Elas estão bem próximas ao hipocampo, a estrutura responsável pela formação das novas memórias.
Isso é muito importante para os familiares e para os que cuidam de alguém com Demência de Alzheimer e outras demências.
Conhecimentos importantes
Cientes de que as pessoas com essas doenças estão muito propensas a esse “contágio emocional”, cuidadores e familiares devem procurar transmitir emoções positivas, não projetar suas angústias sobre seus entes queridos e ter muita atenção com o que falam e como falam com a pessoa cuidada.
Um tom de voz mais alto do cuidador pode gerar estresse e até mesmo uma reação agressiva no paciente.
Por outro lado, uma ligação telefônica de um familiar ou um passeio no fim da tarde pode deixar a pessoa com Demência de Alzheimer mais feliz.
Enfim, os detalhes podem fazer toda a diferença, é a sabedoria de conduzir cada momento com amor e empatia que tornam os dias mais leves.
Fonte: A Terceira Idade